Gênesis & Gerúndios do Songbook Barbatuques

entrevista com André Hosoi e Carlos Bauzys — por Thiago Rocha

Thiago Rocha
14 min readSep 30, 2022

[Entrevista publicada originalmente no livro Songbook Barbatuques.]

necessidades musicais

  • 1) Quais necessidades musicais o grupo visa tocar com a publicação do Songbook Barbatuques? Aliás, convém dizer que o termo em português para ‘songbook’, cancioneiro, não seria tão preciso quanto o inglês, justo pela imprecisão do termo em inglês, que se refere também a músicas instrumentais. O repertório do Barbatuques não se restringe a canções. Trata-se de um “livro de partituras”, um termo composto e complicado, que comunica pouco e de forma menos imediata e, mais grave ainda, vem despido do legado de músicas populares tão importantes quanto a americana e seu “The Real Book of Jazz” e a brasileira, com os fundadores e pioneiros songbooks do Almir Chediak. Aos puristas da língua, ficam nossas ‘excuses’.

André Hosoi:

Penso que o Songbook nos traz uma concretude para um repertório que acredito ser fundamental para a música corporal de um modo geral. Mais do que um registro de parte das músicas do grupo, ele é um manancial de todo um conceito da parte estrutural de nossos arranjos que, por ter como pilar uma técnica desenvolvida pelo Fernando Barba e também pelos integrantes do Barbatuques, traz muita informação sobre como os corpos podem se organizar. Creio que, a partir desse registro, é possível também ampliar nossas relações com linguagens que não fazem parte de nossa formação, permitindo outros olhares sobre nosso repertório. Outro fator importante é que o Songbook sintetiza um amplo repertório de ritmos — em sua grande parte, ritmos brasileiros — e demonstra a forma com que pensamos as devidas adaptações para os sons corporais. Além de tudo isso, sei que a realização desse livro sempre foi um desejo de Fernando Barba. Vale ressaltar que não usamos a escrita e a leitura nos nossos ensaios, usualmente. Decoramos os arranjos tocando, imitando, passando de um para outro. Por isso acho de extrema importância que esse lindo trabalho feito pelo Carlos Bauzys — que é um barbatuqueiro e também um grande músico, diretor e compositor — seja o começo de um registro histórico, uma documentação do genial trabalho de Fernando Barba. O material é para todos os músicos, como estudo e prática; retorno da linguagem musical para a academia; a criação não partiu da escrita: toca primeiro, escreve — quando escreve — depois; a escrita confere universalidade ao material. Essa qualidade e permanência do Songbook vem de as partituras sintetizarem a linguagem desenvolvida pelo grupo e pelo Fernando Barba, e são um material de estudo não só para percussionistas ou coralistas. O aspecto rítmico é desafiador para todos, como o Rítmica, de José Eduardo Gramani. Essa retorno do Barbatuques à academia será um fenômeno interessante, pois o grupo nunca usou a escrita de partitura como processo para a criação dos arranjos. O Songbook é um registro posterior à criação. A gente toca e canta primeiro; escreve depois. Essa característica não é um desencorajamento a que se escreva — cada pessoa e grupo tem seu processo (o do Barbatuques é mais africano, mais brasileiro, focado nos ciclos e blocos e baseado na presença de um mestre que transmite aquele saber musical específico). Menciono essa característica para enfatizar justamente a importância do registro escrito que entregamos neste livro: a escrita é uma forma mais universalizante de comunicação, isso nos faltava. Não falta mais.

Carlos Bauzys:

Há uma tendência na atualidade de se procurar materiais diferentes, fora do cânone e dos hábitos. Esse material facilitará muito para coros e grupos vocais, brasileiros e estrangeiros, tanto pelo aspecto da percussão corporal quanto da música vocal, que é algo muito presente no trabalho do Barbatuques. Duas preciosidades. Os arranjos vocais são únicos e soam muito brasileiros, pela maneira como são construídos — suas estruturas rítmicas, sonoridades. Um prato cheio para os corais e grupos vocais que buscam fazer coisas diferentes. Muitas vezes me pediram, e seguem pedindo, materiais como o deste Songbook. Essa entrega atenderá a demanda atual e, por sua qualidade, também futura. Falando em Gramani… Eu evito dizer o que penso da importância do Barbatuques, porque quem ouve e não conhece o grupo pode achar que exagero, mas imagino que, no futuro, músicos analisarão o que eles fizeram — e estarão fazendo — como se analisam as composições dos grandes mestres. As obras deles são únicas, geniais, talvez ainda não tenham a admiração do meio musical academicamente mais instruído como, reitero, imagino que acontecerá. Para isso acontecer, somar às gravações as respectivas partituras será de grande valia para analistas e músicos em geral, o que é uma entrada para o meio acadêmico.

esta publicação

  • 2) Quando surgiu a ideia desta publicação? Foi quando o Carlos Bauzys mostrou a primeira grade para o Fernando Barba? Antes, e escusando-me pela obviedade, sendo óbvio, penso que caberia dizer que a obra do Fernando Barba merecia este registro e a força da escrita.

Hosoi:

O Barba sempre me falou de seu desejo por ter esse trabalho registrado, embora não de início, mas depois de já termos construído um repertório consistente. O Bauzys, lá atrás, ainda quando ensaiávamos na Auë, a escola que tive com o Barba e o Marcos Azambuja, certo dia me mostrou suas partituras para a faixa que abre nosso primeiro álbum, o Barbapapa’s Groove. Já Barbapapa’s Groove, a música, é uma peça muito representativa da técnica que usamos até hoje, cheia de detalhes: parte dela em uníssono, parte muito polifônica, solos, sobreposições de levadas rítmicas. Fiquei muito impressionado ao ver escrito no papel aquilo que fazíamos de forma muito espontânea, rulos, glissandos, indicação de manipulações etc. O Bauzys desenvolveu a escrita, ampliando as possibilidades para que o imenso universo de sons corporais coubesse nos moldes do pentagrama tradicional de música. Naquele momento, não estávamos pensando em um songbook. Estava ainda tudo num estado embrionário. Anos depois, ao entrar no processo de criação do repertório do Ayú, o Carlos Bauzys auxiliou demais o Barba na direção dos ensaios e do registro desse trabalho, assinando juntos a produção musical desse projeto, que envolveu muitos ensaios e horas de gravação. Um repertório de execução um tanto complexa, com muitas vozes percussivas e também melódicas, formando, por vezes, acordes mais dissonantes do que costumávamos usar até então; novos timbres de percussão corporal entraram. O Bauzys naturalmente começou a registrar o trabalho, mesmo porque, esse é o jeito que ele trabalha em sua experiência como regente, arranjador e compositor. Ele tem essa habilidade que nenhum de nós, nem o Barba nem ninguém do grupo, possui, que é organizar visualmente isso tudo em forma de partitura com notável velocidade e precisão. Isso nos auxiliou muito, tanto para o estudo em casa das partes de cada naipe como para deixar bem claras as complexas formas que estavam surgindo.

Bauzys:

Antes da publicação vieram as partituras. A necessidade de ter partituras do Barbatuques veio-me em 2003. Eu participava de um grupo vocal, o Octombrada, que fazia percussão corporal também. O meu processo de criação envolve a escrita. Nessa época, eu estudava percussão corporal; foi um caminho natural me interessar pelos Barbatuques. Isso me levou a participar de oficinas do grupo. A escrita faz parte também do meu processo de estudar; e eu queria muito aprender o Barbapapa’s Groove, a música do primeiro álbum que é percussão corporal do início ao fim. Da escrita dela para as demais foi outro caminho natural. Eu já era fascinado pelo grupo.

primeira grade

  • 3) É famosa a reação entusiasmada do Barba quando viu a primeira grade. Como essa novidade foi recebida pelo grupo?

Hosoi:

A reação do Barba foi daquelas que quem o conhece sabe e se delicia com isso. Ele sempre foi muito espontâneo no que diz respeito à sua relação com a música. Não estava com ele, creio eu, quando ele viu as partituras pela primeira vez. Ele me contou depois da visita do Bauzys à escola. Mas todos nós ficamos muito impressionados, e mais do que isso, surpresos. Não era algo que ficávamos pensando. Foi mágico, uma visualização de algo que não tínhamos nem imaginado.

Bauzys:

Quando você ama alguma coisa, você sempre quer e precisa entendê-la mais.

critérios para adoção dos símbolos

  • 4) A notação de percussão não é convencionada e, pelo pouco tempo que existe, podemos dizer que não é uma maneira tradicional de transmissão do “idioma” corpóreo-percussivo. Quais foram os critérios para adoção dos símbolos que chegaram a este Songbook, digamos, o processo pré-editorial? Que dicas podem deixar para os leitores?

Bauzys:

Basicamente, o que usei foi a escrita da bateria e seus correspondentes corporais, relacionando funções, timbres e localizações, mas priorizando correspondências visuais entre os símbolos e os gestos (corporais). Cabe ressaltar que a própria notação da bateria já traz essas relações visuais e imagéticas de corpo e sons, por exemplo, as localizações das peças da bateria no pentagrama e seus sons, graves e agudos, geral e, respectivamente, nas partes inferior e superior da pauta musical.

Hosoi:

Fizemos várias reuniões para aprimorar essa escrita, principalmente em relação aos símbolos que representam os sons. O Stenio Mendes — pesquisador de sons corporais, músico fenomenal e um grande amigo do Barba — já havia me mostrado suas apostilas que incluem uma representação gráfica para esse instrumento incrível que é o corpo humano. É fantástica, porém não cobre as necessidades do que o Barbatuques desenvolve, que tem, além do corpo, um discurso muito sistemático de padrões rítmicos distribuídos pelas partes do corpo. Lembro de discutirmos cada som e cada símbolo para a bula de notação. Ela faz parte das nossas apostilas que oferecemos aos alunos das oficinas, tanto presenciais como também on-line, nos dias de hoje.

outros métodos de notação

  • 5) O livro baseou-se em outros métodos de notação? Se sim, quais?

Hosoi:

Creio que a espinha dorsal da escrita seja a que é usada para a bateria, o que coincide com o pensamento inicial do Barba em relação às adaptações dos padrões rítmicos de instrumentos para o corpo. Ele começou pensando em bateria. Estudamos muito com o Gramani, mas não é uma influência de escrita, diretamente.

a emergência da percussão

  • 6) Um dos destaques que consensualmente se dá à música erudita do século XX — e que o século XXI provou ser um caminho irreversível — é a emergência da percussão como solista e camerista de concerto, fenômeno cujo marco inicial comumente se credita ao solo de tímpano na 5ª Sinfonia de Beethoven, o primeiro solo de percussão em uma sinfonia. A música do Barbatuques, mesmo quando é de matriz inequivocamente popular, relaciona-se com esse repertório, na medida que incorpora sons que não seriam admitidos como musicais, por exemplo, na música clássica do século XIX, e — o bater palmas à parte — não eram comuns sequer em músicas populares em geral. A notação das partituras deste livro se relaciona com esse repertório de concerto? Se sim, de que maneira?

Hosoi:

Acho que esse Songbook trabalha com a união de duas linguagens que estão cada dia mais próximas, que é da música popular e da música clássica, sendo que a popular ainda se refere ao repertório mais pop e também ao que normalmente chamamos de música folclórica. A percussão corporal, ao mesmo tempo que é vista por muitos como uma descoberta, algo inovador, existe desde sempre e provavelmente está entre as primeiras formas de o ser humano produzir música. A percussão é algo que, a meu ver, todos os músicos deveriam estudar, ao menos como uma prática didática. Quando eliminamos ou reduzimos aspectos melódicos e harmônicos de uma peça, começamos a procurar esses elementos no ritmo, algo que preencha essa lógica, e ela existe no complexo de encaixe do quebra-cabeça percussivo. Chamar atenção a isso é uma coisa muito valiosa para grupos vocais, coros e músicos eruditos, de modo geral, assim como as pessoas que não costumam ler terão a oportunidade de ver a escrita do que já tocam pelo aprendizado da imitação.

relações com o repertório erudito

  • 7) E o próprio Barbatuques tem relação com o repertório erudito? Penso que, sendo o Hermeto Pascoal — alguém que perpassa estilos e gêneros — uma considerável influência de vocês, creio que podemos dizer que sim. Se a resposta é mesmo sim, pergunto também: como o grupo se relaciona a esse repertório?

Hosoi:

Algo que o Barba e os integrantes do Barbatuques me ensinaram é não dividir ou catalogar sons e músicas por estilo ou gênero. Claro que os rótulos ajudam, mas, no nosso caso, sempre atrapalharam. Nossos discos sempre tiveram dificuldade na hora de estar nas prateleiras, ninguém sabe onde colocar o álbum. Ao mesmo tempo que tem voz, não é um grupo de canção, mas se for instrumental, cadê o instrumento? E por aí vai. Penso que esse livro será de grande valor para os estudantes de música clássica, os quais poderão se aproximar de um repertório que foi construído pela oralidade e transposto para uma linguagem que se aproxima da escrita convencional de música. Na minha prática no choro e como professor, percebo que músicos populares e eruditos sentem a música de jeitos muito diferentes. Se juntarmos esses universos, teremos músicos mais plenos. O músico erudito tem o que aprender com esses repertórios de origens negras e mouras, como o popular tem o que aprender da música europeia. Todos têm a ganhar.

Bauzys:

Essas barreiras que se crê existir entre as músicas populares e eruditas — barreiras que, graças a Deus, estão a cada dia menores –, estão intrinsecamente ligadas ao aspecto rítmico da música, especialmente, a complexidade rítmica. Vejo isso na minha prática do teatro musical, que é uma atividade que por natureza mescla o popular e o erudito — aliás, este é um lugar que gosto de estar: essa mescla. Por exemplo: músicos de cordas sinfônicas têm dificuldades com complexidades rítmicas que ficam muito evidentes quando trabalhamos com um repertório de matriz popular, dificuldades estas que o músico popular não tem. Por isso que há algumas coisas que, quando penso em escrevê-las para a orquestra, hesito, receando que não funcionem. Mas não funcionariam não porque estejam erradas, e sim porque não são da prática deles. Ou seja, quando tiverem essas habilidades rítmicas da música popular, terão também o repertório popular como prática. Falta pouco, isso tudo está melhorando bastante graças à aproximação desses mundos ainda tidos como separados; é aqui que a percussão entra, sendo ela tanto essa nova protagonista na música erudita quanto uma tradicional protagonista da música popular. Essa junção também tem muito a ver com o Barbatuques, pois o grupo tem muito a oferecer ao mundo erudito, não apenas ritmicamente, mas como harmônica, melódica e composicionalmente. Cito, por exemplo, a música Ayú, que tem um desenvolvimento muito interessante e complexo do começo ao fim, como encontramos em uma sinfonia. Ainda da Ayú, cito também a parte rítmica que, não é tão arriscado dizer, seria dificílima para alguns coros eruditos fazerem com naturalidade; para outros, até inviável.

influência na área educacional da música

  • 8) Este Songbook, decerto, terá influência na área educacional da música, tradicionalmente mais aberta ao uso da percussão (Zoltán Kodály), corporal inclusive, e às sonoridades que existem para além dos instrumentos (R. Murray Schafer). Podemos considerar até mesmo a obra teórica de um Pierre Schaeffer e seu “Tratado dos Objetos Musicais”, e um Michel Chion e seu “Guia dos Objetos Musicais” como educacional, exemplos consagrados da expansão do que se considerava música e musical. Que papel o Songbook do Barbatuques pode desempenhar na educação musical no Brasil? E no mundo?

Hosoi:

O Barbatuques já é pauta e conteúdo de uma série de livros didáticos que vão do infantil ao médio, tanto no ensino público como no particular. O corpo nos traz um acesso muito democrático no fazer musical, e as aulas ministradas através de nossa técnica geram custos baixíssimos, não carecendo de piano, violão, flauta ou outros dos tradicionais instrumentos de musicalização. Como a percussão corporal tem elementos para ser considerada uma linguagem em si, tendemos a unificar o aprendizado dos sons e jogos, o que favorece muito a integração dos participantes e, assim, traz um bom resultado da música feita coletivamente. Acho que o legado do Fernando Barba se espalhará pelo mundo das mais diversas formas e o Songbook é uma delas.

Bauzys:

Tenho convicção de que, em termos educacionais, a percussão corporal do Barbatuques e a maneira como eles ligam isso à criatividade, com a libertação da criatividade pelos jogos de improvisação, é tão importante quanto foram em seus tempos Émile Jaques-Dalcroze, R. Murray Schafer e outros desse nível, porque o Barbatuques transforma o corpo em instrumento musical e de aprendizado. Isso é uma revolução, pois quebra barreiras e impedimentos sociais e financeiros, viabilizando o aprendizado musical para pessoas que de outro modo não teriam acesso a tal. Qualquer um pode aprender: não precisa ter dinheiro, estrutura, instrumentos etc. Ademais, é um tipo de educação musical que não é impositiva: você está sempre, ao mesmo tempo, criando e aprendendo, usando também suas referências; e, a partir disso, passar ao entendimento intuitivo de estruturas musicais. É uma corporificação do entendimento e aprendizado musicais. Este Songbook cumprirá essas funções e também a de se comunicar com o meio acadêmico-educacional.

estudantes de música

  • 9) Especulando um pouco mais: como teria sido a formação musical de vocês se este Songbook tivesse surgido em seus anos como estudantes de música?

Bauzys:

Imensa! Se já foi imensa na minha vida adulta, que dizer da infância… Mudou tudo, para mim. Os próximos músicos poderão se desenvolver muito mais rápida e eficientemente do que, por exemplo, eu próprio, que só fui descobrir e estudar essas técnicas e repertório depois dos vinte anos.

Hosoi:

Penso que materiais escritos são importantes para o registro das obras, mas também como objeto de estudo. Poder ter um fácil acesso aos álbuns pelas plataformas digitais e também sua decodificação gráfica disponível com certeza encurtará o caminho da aprendizagem da linguagem que estamos afirmando desde o começo do grupo Barbatuques.

a formação musical dos Barbatuques

  • 10) Ainda sobre a formação musical do grupo, de vocês, que influências artísticas e (ou) teóricas ainda ecoam neste livro?

Bauzys:

A maneira como criei a notação é o reflexo direto de toda a minha formação musical e a maneira como escrevi as músicas reflete como eu penso música. Destaco que notei e escrevi também pensando em como usaria para ensinar e ensaiar o repertório. A teoria transcreveu a prática.

Hosoi:

Acho que no livro aparece a influência trazida por cada integrante do grupo. O grupo é muito diverso no sentido da formação e também do que ouve como referências musicais. Como o centro do nosso trabalho é a produção da música corporal, não nos apegamos a um estilo ou ritmo específico. É claro que a música brasileira e seus gêneros são nossa principal fonte. A música folclórica traduzida pelas comunidades nos toca muito, então o samba, boi, maracatu, coco, catira, jongo, batuque etc., são coisas que certamente se elencam como principais influências; mas também nós nos permeamos da música mais pop, pois ela nos traz o beatbox, a imitação de instrumentos como o baixo, a guitarra, a bateria. Também influenciam muito as pessoas que trabalham mais livremente no fazer musical, tais como, Hermeto Pascoal, Bobby McFerrin e Naná Vasconcelos.

grupos vocais, coros e regentes

  • 11) Saindo um pouco da área educacional (talvez bem pouco): sendo o Barbatuques um grupo tão ao gosto de grupos vocais, coros e regentes, acredito que o livro será muito bem acolhido por essa área da música, tão abrangente e ativa em diversos países e notoriamente no Brasil. Esperam quais desdobramentos nesse sentido?

Hosoi:

No fundo são duas coisas. Que esse repertório fique mais acessível para os regentes, e portanto aos chorus, é a primeira. A segunda é maior. É que, aos poucos, se naturalize o uso de outros jeitos de cantar e produzir sons através do corpo. Isso pode aparecer na execução dos arranjos escritos, mas também através do aprendizado que o próprio repertório nos traz. Assim, penso que será muito mais comum vermos corais usando nossa técnica, até mesmo dentro do repertório mais clássico desse segmento.

Bauzys:

Esse movimento é o mesmo da aproximação da música popular com a erudita, e o Songbook atende a essa demanda: é, como dito, um prato cheio para os praticantes da música vocal e corporal, com elementos de ambos os mundos, o popular e o erudito.

o que vem depois?

  • 12) Para nos atermos à escala cromática, esta descoberta nada casual, terminemos com doze questões e deixemos o leitor seguir para o que mais importa. Digam-nos, o que vem depois? O “Volume 2”? Tomos temáticos?

Hosoi:

A ideia é registrar todo o repertório do grupo, porém ele é vivo, o grupo continua produzindo. Então, provavelmente lançaremos os Songbooks pela ordem dos álbuns, incluindo nossa produção ligada às crianças.

Bauzys:

Para o método dos Barbatuques se transformar em um método de relevância mundial como hoje é um Dalcroze — e este é um sonho de vida, para mim –, só falta uma coisa: compilar tudo o que o grupo já tem e organizar nesse grande método. Com este passo, teremos uma ferramenta de educação musical do melhor nível que há.

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Thiago Rocha

Music Engraving & Book Design at PRESTO; degree: Composing & Conducting at UNESP (Brazil). Books on Amazon and Apple Books. https://linktr.ee/bythiagorocha